Amós
Política e Justiça Social
como Parte da Adoração
Assim diz o Senhor: Como o pastor livra da boca do leão as duas pernas ou um pedacinho da orelha, assim serão livrados os filhos de Israel que habitam em Samaria, no canto da liteira e na barra do leito.
-Amós 3.12
Aborrecei o mal, e amai o bem, e estabelecei o juízo na porta; talvez o Senhor, o Deu dos Exércitos, tenha piedade do resto de José.
-Amós 5.15
Introdução
O assunto política sempre dividiu opiniões, e não é diferente quando se fala de política com cristãos. Esse tipo de assunto não costuma ter fim em virtudes das opiniões manisfestas por simpatizantes e antipatizantes a ideia de pessoas nascidas de novo estarem envolvidas com questões políticas nos governos em nossos dias.
Até que ponto Deus se interessa realmente por política e justiça social? É possível crer que a forma como vivemos delimita se Deus recebe ou não a nossa adoração a Ele devotada? Neste capítulo, veremos que a justiça social, praticada ou não por nos, interfere também em nossa relação com Deus.
Quem Foi Amós
Pouca coisa se sabe de Amós. Um dos poucos momentos em que encontramos na Bíblia uma referência á sua procedência ou origem é por ocasião da sua resposta a Amazias, sacerdote em Betel, que acusou Amós de ser um conspirador contra o rei: "E respondeu Amós e disse a Amazias: Eu não era profeta, nem filho de profeta, mas boieiro e cultivador de sicômoros. Mas o Senhor me tirou de após o gado e o Senhor me disse: Vai e profetisa ao meu povo Israel" (Am 7.14,15). É possível entender que por ser uma pessoa de origem simples, e por suas atividades diárias-boieiro e cultivador de sicômoros-não haja registro de seus ancestrais. Sabemos que ele era da tribo de Judá, de um ligar chamado Tecoa, a 22 quilômetros de Jerusalém. Seu ministério foi exercido no Reino do Norte.
Amós talvez não fosse a pessoa mais indicada para trazer uma profecia nas circunstâncias em que ele se encontrava. Ele não era profeta ou, pelo menos, não tinha estudado para ser profeta! Tinha procedência simples, ainda mais para as pessoas ás quais iria profetizar: a classe dominante e sofisticada em Israel. A linhagem de Amós não era muito refinada também: ele chamou as mulheres ricas da cidade de "vacas", uma linguagem nada ortodoxa para aqueles dias. Mas foi esse homem que Deus escolheu para
trazer um duro juízo contra a sociedade israelitas corruptas e injusta.
Sua Mensagem
Em primeiro lugar, Amós nos mostra que Deus se utiliza de quem Ele quer, e que Ele pode se utilizar de pessoas que, dentro dos nossos padrões, não seriam enquadradas como adequadas a certas funções. Amós era um homem rústico, de origem humilde, com um vocabulário limitado e nenhum compromisso com as normas cerimoniais que regiam a convivência dentro das suntuosas casas dos ricos israelitas.
Ele era de Judá, mas profetizou para Israel. E além de tudo, era um "leigo na igreja", ou melhor, não era uma pessoa acostumada com os trabalhos de liderança nem de administração dos sacrifícios e leis cerimoniais descritos no Pentateuco, Mark Dever diz que
Muitas vezes Deus chama pessoas inesperadas para
servi-lo de formas surpreendentes, não é mesmo?
Apenas rememore as histórias do Antigo Testamento.
O pagão Abraão tornou-se pai dos fiéis. O octogenário
e gaguejante Moisés tornou-se o grande doador da Lei
e libertador de Israel. O jovem pastor Davi tornou-se
o maior rei de Israel... e Deus chamou Amós, o leigo
da igreja e lavrador, para ser profeta de uma nação
que parecia próspera e bem-sucedida.
O cenário religioso e social de Israel era de total descaso para com as coisas de Deus. Os sacerdotes se aproveitavam de suas funções para tratar de seus próprios interesses e se tornarem ricos. Quem tinha dinheiro podia comprar sentenças judiciais de juízes corruptos, usurpando o direito dos mais necessitados. Pai e filho dormiam com a mesma prostituta.
E todos tinha a certeza de que, se seguissem os rituais descritos na lei de Moisés, não precisavam se preocupar com suas vidas pessoais.
A situação era tão séria que Deus deu a Amós uma visão em que apareceu um prumo, um instrumento com o qual uma parede era medida, para que se verificasse se estava reta ou não. Com o prumo, um hábil construtor poderia ver se a parede poderia ser ou não aproveitada em uma reforma, ou se deveria ser demolida para que outra fosse colocada em seu lugar. E o prumo de Jeová mostrou que a parede de Israel estava torta. Essa falta de retidão não demonstrada apenas na forma como cultuavam, mas principalmente na forma como o mais abastados tratavam os mais crentes, exigindo deles tributos e fazendo pouco caso do que a Lei ordenava no tocante á ajuda necessária aos pobres. A profecia de Amós tinha por objetivo mostrar ao povo de Deus que a prosperidade financeira não poderia instituir a arrogância e a acomodação em relação á prática da justiça social.
A transgressão do povo era tão séria que vale a pena aqui recordar alguns versos que tratam da assistência e da justiça social em Israel. A Lei de Moisés trazia diversas observações sobre os
cuidados que o israelitas deveriam ter uns com os outros:
ÊXODO 22.25
Se emprestares
dinheiro ao meu povo, ao pobre
que está contigo,
não lhe imporás usura. [Um
israelita não
poderia cobrar juros a uma pessoa
pobre, com
objetivos de enriquecimento pessoal.]
23.6 Não
perverterás o direito do teu pobre na sua
demanda. [As
causas judiciais deveriam ser julgadas
de forma
equilibrada. A parte mais fraca, o pobre,
não poderia ter seu
direito pervertido pelo julgador.]
19.15 Não fareis
injustiças no juízo; não aceitarás
o pobre, nem
respeitarás o grande; com justiça
julgarás o teu
próximo. [Aqui o norma obriga o juiz
a realizar um
julgamento juto, não privilegiando
nenhum dos que se
apresentavam diante dele.]
25.35 E, quando
teu irmão empobrecer, e as suas
forças decaírem,
então, sustenta-lo-ás como
estrangeiro e
peregrino, para que viva contigo.
[Deus ordena que
haja um auxílio no caso de um
irmão não ter em
si mesmo forças para trabalhar
e ganhar com o
trabalho de sua mãos o seu sustento.]
25.39 Quando também teu irmão empobrecer, estando
ele com contigo, e se vender a ti, não o fará servir
serviço de escravo.[A Lei presava pela dignidade
humana dos israelitas, mesmo numa época em que
a escravidão era aceita como uma prática social
normal. O irmão pobre , que se vendia por uma
questão de necessidade temporária, não deveria ser
tratado como escravo.]
Quando vemos que um dos pilares da verdadeira
religião é a preocupação e ação de auxílio para
com "os órfãos e as viúvas" (Tg 1.27), e que os
israelitas estavam fazendo pouco caso daquilo que
a própria Lei ordenava, não devemos nos surpreender
que Deus tenha ficado tão irado com o seu próprio
povo. O descaso com as coisas de Deus traz
consequências sérias.
Deuteronômio
15.9 Guarda-te que não haja palavra de Belial
no teu coração, dizendo: Vai se aproximando o
sétimo ano, o ano da remissão, e que o teu olho
seja maligno para para com teu irmão pobre, e
não lhes dês nada; e que ele clame contra ti ao
Senhor, e que haja em ti pecado. [Esse mandamento
proibia que um pobre que vendia seu trabalho a
um irmão fosse liberado de suas obrigações sem
receber qualquer resultado do seu trabalho.]
15.11 Pois nunca cessará o pobre no meio da
terra; pelo que te ordeno, dizendo: livremente
abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu
necessitado e para o teu pobre na tua terra.
[Deus deixa claro que sempre haveria pobre em
Israel, mas também mostra que os mais abastados
deveriam cuidar dessas pessoas, com generosidade.]
24.15 No seu dia, lhe darás o seu salário, e o
sol se não porá sobre isso; porquanto pobre é,
e sua alma se atem a isso; para que não clame
contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado. [Aqui
Deus trata do salário do trabalhador diário,
que não poderia ter protelada a sua entrega, sob
pena de Deus ouvir a oração do pobre e reconhecer
o rico como uma pessoa em que havia pecado.]
Como tais normas foram esquecidas e pervertidas, Deus usou os profetas para trazer a memória do povo o seu próprio pecado:
Isaías
1.7 Aprendi a fazer o bem; praticai o que é reto;
ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai
da causa das viúvas.
1.23 Os teus príncipes são rebeldes e companheiros
de ladrões; cada um deles ama os subornos e corre
após salários; não fazem justiça ao órfão, e não
chega perante eles a causa das viúvas.
3.14 O Senhor vem em juízo contra os anciãos do seu
povo e contra os seus príncipes; é que fostes vós
que consumistes esta vinha; o espólio do pobre está
em vossas casas.
3.15 Que tendes vós que afligir o meu povo e moer
as faces do pobre?-diz o Senhor, o Deus dos Exércitos.
10.2 para prejudicarem os pobres em juízo, e para
arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo, e
para despojarem as viúvas, e para roubarem os órfãos!
58.7 Porventura, não e que também que repartas o teu
pão com o faminto e recolhas em casa os pobres
desterrados? E, vendo o nu, o cubras e não te escondas
daquele que é da tua carne?
Ezequiel
16.49 Eis que está foi a maldade de Sodoma, tua irmã:
soberba, fartura de pão e abundância de ociosidade
teve ela e suas filhas; mas nunca esforçou a mão do
pobre e do necessitado.
Daniel
4.27 Portanto, ó rei, aceita o meu conselho e desfase
os teus pecados pela justiça e as tuas iniquidades,
usando de misericórdia para com os pobres, e talvez
se prolongue a tua tranquilidade.
Amós
4.1 Ouvi está palavra, vós, vacas de Basã, que estais
no monte de Samaria, que oprimis os pobres, que
quebrantais os necessitados, que dizeis a seus
senhores: Dai cá, e bebamos.
5.11 Portanto, visto que pisais o pobre e dele exigis
um tributo de trigo, edificareis casas de pedras
lavradas, mas nelas não habitareis; vinhas desejáveis
plantareis, mas não bebereis do seu vinho.
8.6 para comprarmos os pobres por dinheiro e os
necessitados por um par de sapatos? E, depois,
venderemos as casas do trigo.
Zacarias
7.10 e não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente o mal cada
um contra o seu irmão, no seu coração.
Em lugar de ser um exemplo para as nações, os pecados
Israel excederam os dos gentios. Amós deixou claro
que o Reino do Norte, ainda que orgulhoso de sua
história e recentes sucessos sob o reinado de
Jeroboão II, era mais ofensivo aos olhos de Deus
do que as nações vizinhas.
Malaquias
3.5 E chegar-me-ei a vós para juízo, e serei uma
testemunha veloz contra os feiticeiros, e contra
os adúlteros, e contra os que defraudam o
jornaleiro, e pervertem o direito da viúva, e do
órfão, e do estrangeiro, e não me temem, diz o
Senhor dos Exércitos.
3.14 O Senhor vem em juízo contra os anciãos do seu
povo e contra os seus príncipes; é que fostes vós
que consumistes esta vinha; o espólio do pobre está
em vossas casas.
3.15 Que tendes vós que afligir o meu povo e moer
as faces do pobre?-diz o Senhor, o Deus dos Exércitos.
10.2 para prejudicarem os pobres em juízo, e para
arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo, e
para despojarem as viúvas, e para roubarem os órfãos!
58.7 Porventura, não e que também que repartas o teu
pão com o faminto e recolhas em casa os pobres
desterrados? E, vendo o nu, o cubras e não te escondas
daquele que é da tua carne?
Ezequiel
16.49 Eis que está foi a maldade de Sodoma, tua irmã:
soberba, fartura de pão e abundância de ociosidade
teve ela e suas filhas; mas nunca esforçou a mão do
pobre e do necessitado.
Daniel
4.27 Portanto, ó rei, aceita o meu conselho e desfase
os teus pecados pela justiça e as tuas iniquidades,
usando de misericórdia para com os pobres, e talvez
se prolongue a tua tranquilidade.
Amós
4.1 Ouvi está palavra, vós, vacas de Basã, que estais
no monte de Samaria, que oprimis os pobres, que
quebrantais os necessitados, que dizeis a seus
senhores: Dai cá, e bebamos.
5.11 Portanto, visto que pisais o pobre e dele exigis
um tributo de trigo, edificareis casas de pedras
lavradas, mas nelas não habitareis; vinhas desejáveis
plantareis, mas não bebereis do seu vinho.
8.6 para comprarmos os pobres por dinheiro e os
necessitados por um par de sapatos? E, depois,
venderemos as casas do trigo.
Zacarias
7.10 e não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente o mal cada
um contra o seu irmão, no seu coração.
Em lugar de ser um exemplo para as nações, os pecados
Israel excederam os dos gentios. Amós deixou claro
que o Reino do Norte, ainda que orgulhoso de sua
história e recentes sucessos sob o reinado de
Jeroboão II, era mais ofensivo aos olhos de Deus
do que as nações vizinhas.
Malaquias
3.5 E chegar-me-ei a vós para juízo, e serei uma
testemunha veloz contra os feiticeiros, e contra
os adúlteros, e contra os que defraudam o
jornaleiro, e pervertem o direito da viúva, e do
órfão, e do estrangeiro, e não me temem, diz o
Senhor dos Exércitos.
Essas citações selecionadas mostram o quanto Deus se preocupava com o bem-estar de seu povo, e o quanto Ele estava indignado com o descaso dos mais abastados em relação àqueles que pouco ou nada tinham. Para Deus, tal situação merecia um duro juízo. Deus sabia que pobre sempre existiriam em Israel, e deixou claro que eles deveriam ser assistidos.
Em que Aspecto a História de Amós Fala Conosco
A expressão, "justiça social" merece uma analise mais acurada em nossos dias, pois os profetas tratam desse assunto sem muita cerimônia. Nos dias desses homens de Deus, a justiça social referia-se ao cumprimento da lei no tocante ao próximo e ao respeito com que ele deveria ser tratado, independentemente de sua condição social. Em diversas citações, Deus acusa os Israelitas de agirem de forma ímpia para co seus irmãos menos favorecidos. A ideia de praticar a justiça social está declarada na Lei de Moisés, no trato com aqueles que precisavam de ajuda.
Deus é contra a riqueza?
De forma alguma. Como vimos em alguns versículos acima, Deus tratou de ricos e pobres. Os ricos deveria ter um coração generoso para com os menos abastados, de forma que aqueles que tinham muito não sentiriam falta daquilo que estavam oferecendo, e os que pouco tinham o necessário para sua subsistência. Esse era o padrão de Deus. Portanto, Deus jamais foi contrário às riquezas, mas também incentivou o auxilio como uma demonstração de justiça social. O problema era que os ricos descritos por Amós tinham acumulado muitas propriedades, esquecendo das necessidades de seus irmãos.
Aquela terra era , acima de tudo, do Senhor, e desprezar os pobres era o mesmo que ter descaso para com o concerto com Deus.Em lugar de ser um exemplo para as nações, os pecados Israel excederam os dos gentios. Amós deixou claro que o Reino do Norte, ainda que orgulhoso de sua história e recentes sucessos sob o reinado de Jeroboão II, era mais ofensivo aos olhos de Deus do que as nações vizinhas. Quando vemos que um dos pilares da verdadeira religião é a preocupação e ação de auxílio para com os "órfãos e as viúvas" (Tg 1.27), e que os israelitas estavam fazendo pouco caso daquilo que a própria lei ordenava, não devemos nos surpreender que Deus tenha ficado tão irado com seu próprio povo. O descaso com as coisas de Deus traz consequências sérias.
O livro
O livro de Amós possui nove capítulos, e é dividido em 3 seções:
I. O Julgamento Iminente, 1.1-2.16
A. Título e Tema, 1.1,2
B. Oráculos contra as Nações Vizinhas, 1.3-2.3
C. Oráculo contra Judá, 2.4,5
D. Oráculos contra Israel, 2.6-16
II. Sermões sobre o Futuro Julgamento de Israel, 3.1-6.14
A Relação de Israel com Deus, 3.1-8
A Pecaminosidade de Samaria, 3.9-4.3
A Profundidade da Culpa de Israel, 4.4-5.3
Exortação e Condenação, 5.4,15
O Aparecimento de Jeová, 5.16-25
Invasão e Exílio, 5.26-6.14
III. Visões e Epílogo, 7.1-8.3
AS Visões de Amós, 7.1-8.3
Pecado e Julgamento, 8.4-14
O Julgamento Inexorável, 9.1-7
Epílogo, 9.8-15
Profecias Cumpridas em Amós
Deus permitiu que o povo de Israel fosse enviado ao exílio, mesmo sendo um povo escolhido. As mulheres ricas da cidade, que ajudavam a oprimir os pobres, foram levadas como escravas (Am 4.1,2). Deus destruiu também os altares de Betel, que eram usados para a idolatria, e a destruição de Israel também se concretizou. Com o passar do tempo, Deus também cumpriu sua palavra de trazer de volta do exílio nos séculos IV e V, concretizando-se o plano de Deus: "E removerei o cativeiro do meu povo Israel, e reedificarão as cidades assoladas, e nelas habitarão, e plantarão vinhas, e beberão o seu vinho, e farão pomares, e lhes comerão o fruto. E os plantarei na sua terra, e não serão mais arrancados da sua terra que lhes dei, diz o Senhor, teu Deus" (Am 9.14,15).
Junio Silvino de Souza